segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mímese

Manuel Bandeira - escritor/poeta modernista.

Uma homenagem ao inesquecível Manuel Bandeira

Como é a sua Passárgada?

Vou-me embora pra Passárgada

Lá não tenho que trabalhar

Durmo a hora que quero

Até meu sono acabar.


E quando meu sono acaba

Levanto-me bem devagar

Espreguiço-me inteira

E no rio vou me despertar.


Banho-me em límpidas e tépidas águas

O tempo que desejar

E o melhor é que no fim do mês

Não tem conta para pagar.


Em Passárgada assim começo o dia

Depois vou me alimentar

E a comida é boa, farta

De nada pode faltar.


Lá o leite não tem água oxigenada

Nem data de validade

Adulterada.

É consumido na hora, quentinho que só!


A manteiga tem gosto de manteiga!

O requeijão tem gosto de requeijão!

O queijo tem gosto de queijo!

A nata tem gosto de nata!


Tem criações, pomares, hortas e plantações

Diversificadas e abundantes

É permitido comer de tudo, quanto baste para saciar

Em Passárgada a fome não existe e a gula é imperdoável.


Vou-me embora pra Passárgada.


Lá não tem banco, dinheiro, cartão de crédito, cheque, cheque especial e juros

Pra gente se enforcar

A riqueza é de todos.


Não tem metrô, trem, carro, buzina, trânsito, farol ou mão

Porque não precisa, tudo é tão pertinho...

E quando é preciso ir mais longe

É só pedir ajuda a um cavalo que ele gentilmente atenderá.


Não tem relógio

Somente o sol, a lua e o estômago

Que não gritam, mas são implacáveis para nos despertar.


Todo mundo se conhece

“Bom dia, boa tarde, boa noite, como vai”

Não existe xingamento

Somente doces palavras que trazem contentamento.


Vou-me embora pra Passárgada.


Lá todo mundo é artista e alfabetizado

Têm pé de livro, plantações de instrumentos musicais

Os pássaros são exímios maestros

Os camaleões, professores de teatro

E os Lêmores, exímios bailarinos, conduzem a dança.


Quando chove

Arco-íres colorem o cenário

Nossas taças se enchem de champagne celestial

Brindamos!


Fazemos um grande sarau para celebrar a fartura, a vida e a fertilidade

Os livros recitam suas poesias

Os instrumentos tocam belas harmonias

A gente canta, dança e se ama.


E o amor é livre por lá

Amo a ele e a você

Não precisamos nos esconder!

Não é crime, não é errado nem perigoso

Não tem ciúme nem DST.


Vou-me embora

Vou-me embora pra Passárgada!

Um comentário:

  1. No Ceará os pássaros também são eximos maestros,é como diz o poeta:
    minha terra tem paumeiras
    onde canta o sabiá
    as aves que aqui gorjeiam,
    não gorjeiam como lá.

    apesar do céu do meu Ceará ser tão azul que parece uma tela e as noites estreladas,
    o rios de águas cristalinas,e as mulheres linda, e quentes como o sol do meio dia, até eu iria para sua Passárgada. RSsss

    ResponderExcluir